DIA 03 - ITATIBA, MORUNGABA, JARINU - 55 KM

Acordamos exatamente na hora em que o café da manhã foi servido, 06h30. Comemos, nos arrumamos e partimos em seguida. 

Hoje, a altimetria exigiria bastante de nós. Sobre a rota, tomamos a decisão de passar em apenas uma, das duas propriedades, que estavam em nosso caminho... algo me dizia que não teríamos problemas na primeira. 

Voltamos para o Shopping Mall, onde terminamos o caminho no dia anterior, e aproveitamos um posto de gasolina próximo para conferir a calibragem dos pneus antes de seguir. 

Enquanto aguardava o Filipe, observei umas motos de trilhas e uns rapazes conversando. Me aproximei e perguntei sobre a Fazenda Girolândia, a propriedade que atravessaríamos. O rapaz me disse que o local é 'aberto' e não teríamos problemas em passar por ali. Fiquei muito satisfeita por perceber que meu 'feeling' estava certo. 

Seguimos em frente, observando algumas setas que, aos poucos, foram 'desaparecendo'. 

Chegamos a entrada da Fazenda Girolândia. O clima começava a ficar meio instável, parecendo que uma chuva cairia a qualquer momento. Conforme o motoqueiro me havia dito, não havia porteira na entrada e passaríamos ao lado de um lago muito bonito! 

Assim que entramos na fazenda, percebo que teremos a companhia dos motoqueiros de trilha. As motos passavam aos grupos, com todo aquele barulho e rapidez. Isso me deixou um pouco estressada. Comento com Filipe que temo sermos atropelados, a qualquer momento... mas ele disse que estávamos visíveis e andando no cantinho da estrada. Já ouvi dizer que, quando temos um 'problema' sem solução, podemos mudar a forma como o encaramos... por isso, comecei a pensar que, caso nos perdêssemos ou precisássemos de algum tipo de ajuda, poderíamos recorrer a eles.  Isso realmente amenizou meu estresse! Quando eles chegavam perto, eu erguia as mãos e dava um 'tchauzinho'. Eles passavam mais devagar e até acenavam de volta. 

Subimos por uns bons quilômetros sem parar. Logo chegamos na entrada da sede, onde havia uma placa pedindo privacidade. 

Bem ao lado havia outra estrada, com uma placa apontando nossa próxima cidade destino. 

Filipe gostou muito daqui. Comentou que era bem parecido com algumas trilhas, de Portugal. 

Apesar do cascalho, a estrada estava boa. Subimos por aproximadamente 4 km. Logo tivemos uma vista panorâmica de Itatiba, no horizonte. 

Devido as marcas de pneus na estrada, percebemos que o lugar é muito frequentado por ciclistas, provavelmente sendo muito propício para treinos. 

Ficamos eufóricos por podermos passar aqui! Sentíamos que tudo estava correndo bem, assim como 'planejamos'. 

É claro que, tudo que sobe, uma 'hora' desce. Após a elevação máxima, passamos a descer por aproximadamente três quilômetros e rapidamente chegamos na caixa d'agua. Já era possível também, avistar a cidade de Morungaba abaixo. 

Ao entrarmos na cidade, seguimos para um pequeno desvio da segunda propriedade privada, que decidimos não invadir (Sítio Muriqui). Passamos pela rodovia, sentido Bragança, para chegarmos a outra estrada, em direção ao Pico Alto.

A estrada é muito bonita! Passaram por nós, vários grupos de motos esportivas. Após uns 2 km, chegamos a estrada que procurávamos.  

Iniciamos uma sequência de subidas por mais ou menos 15 km, partindo de uma altimetria de 700m chegando até 1107m. Apesar da grande dificuldade, as imagens que se formavam a nossa frente eram incríveis e pagavam todo nosso esforço!

Aproximadamente 10 km após iniciarmos as subidas, paramos para nossa refeição básica. Hoje não havia um banquinho, por isso, sentamos na rua mesmo.

De 'barriga' cheia, seguimos viagem. Passamos pelo famoso eucalipto, que fica bem no meio da estrada, e fizemos algumas fotos por lá... 

A sensação era que, a cada nova curva, precisávamos calibrar nossa visão para uma nova paisagem que se abria diante de nós... para todos os ângulos, víamos uma foto!

Quando avistamos o início da descida, fomos obrigados a parar e contemplar... que visão! Lembrei-me de alguns lugares do Caminho de Santiago de Compostela, quando chegávamos aos pontos mais altos.

Foram 10 km descendo, sem parar. Nossos freios ficaram cheirando queimado. Chegamos novamente na civilização numa adrenalina daquelas! Apesar de difícil, este sem dúvida foi o trecho mais bonito de toda a viagem. 

Ao passarmos por um posto de gasolina, pergunto ao Filipe se precisava de alguma coisa... ele disse que estava bem. Por isso, seguimos viagem. Andamos por alguns quilômetros na rodovia e logo adentramos a direita, por mais uma estrada vicinal. 

Passamos sobre o Rio Atibaia...

E seguimos sentido Jarinu. 

Por aqui, raramente víamos uma seta... mas, vez por outra encontrávamos uma. 

Achei lindo essas 'crianças' pastando. 

Os últimos 10 km foram extremamente difíceis para mim... sentia uma fome e um cansaço fora do normal. Não queria parar e comer qualquer coisa, pois queria almoçar em 'grande estilo' na cidade de Jarinu... mas estava bem difícil. Não existem retas por aqui... estávamos subindo ou descendo, nada muito importante, mas o cansaço havia me consumido. 

Passamos num pequeno túnel, sobre a Rodovia D. Pedro, onde  li que faltavam 7 km. Paramos para fazer a última foto do percurso. 

Á partir daí, pedalava um pouco e parava... olhava para Filipe e dizia: 'Calmaa to indo, tá!' e, na sequência, eu ria, devido ao cansaço. Para me animar ele dizia: 'Você está indo muito bem, não desanima, estamos quase lá!' Quando entramos na cidade, mal podia acreditar! Passamos por uma faixa 'nos' saudando e, por isso, paramos para registrar. 

Seguimos por mais uns 2 km, até a praça matriz, onde havíamos marcado com nosso amigo. 

Achamos o carro, mas não encontrávamos ele. Ligava em seu celular, que caia direto na caixa postal. Extremamente cansada, sentei em um banco e comentei que ficaria ali, enquanto Filipe andava por todas as ruas procurando-o. Quando voltou, disse que já havia procurado em todos os lugares e não sabia mais onde ir. Respirei fundo e fechei os olhos, tentando ouvir exatamente  o que precisava para me sentir melhor. Então, propus a ele: 'Vamos comer e assim que terminarmos acho que estaremos bem para continuar procurando.' 

Seguimos então para o restaurante Estação Gourmet, onde fomos carinhosamente recepcionados por Carlos, o proprietário. 

Como se fôssemos 'velhos' amigos, permitiu que entrássemos ás 15:30 (embora já estivesse encerrando o horário de almoço e ainda não estivesse aberto para o jantar), nos ofereceu seu vestiário para tomarmos banho e um lugar seguro para guardarmos as bikes. Combinamos o prato antecipadamente, macarrão ao molho branco com filé grelhado, e fomos nos limpar. A refeição chegou na mesa praticamente conosco. Como um bom português, maridão escolheu um vinho branco que 'casou' perfeitamente com a comida!  

Calmamente degustamos nossa refeição, conversando sobre a viagem, ainda digerindo este final que, como não poderia deixar de ser, foi perfeito! 

Assim que terminamos de comer, olho para fora e vejo nosso amigo caminhando calmamente pela rua... grito por ele que sorri e vem em nossa direção. Quando perguntamos onde estava, comenta que reencontrou um amigo na cidade (pura coincidência) e tinha ido assistir o primeiro tempo do jogo de futebol, com ele. Trouxemos o carro mais perto, arrumamos tudo e partimos, felizes da vida.

Novamente, apesar de todas as dificuldades, sinto que não há outra maneira mais perfeita de viajar ou uma melhor companhia nesta vida... e que uma boa aventura, para acontecer, depende de muito pouco... talvez de um pouco de planejamento, muitos sonhos e uma dose de loucura. Mas viver sem tudo isso, para mim, é 'sobreviver'... e eu preciso de mais para sentir, a cada dia, que ainda estou VIVA...

Obrigada Vida!

Restaurante Estação Gourmet (***Recomendado***)

Em frente a Praça Matriz - Jarinu

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